21 de fevereiro de 2007

“Uma leitura diferente” de Zeca Afonso | Jornal "Tribuna de Macau"


O gesto “estritamente musical” de Zeca Afonso é o que os músicos João Afonso e João Lucas se propõem apresentar durante o espectáculo de amanhã à noite no Centro Cultural de Macau, no âmbito de uma iniciativa da Casa de Portugal. Os lucros do projecto “Um Redondo Vocábulo” revertem a favor da construção de uma escola em Timor-Leste

“Um Redondo Vocábulo” é o nome do espectáculo que traz ao território João Afonso e João Lucas, num “concerto intimista” em que vão interpretar uma selecção das canções “menos conhecidas” de José Afonso. As receitas do concerto, que tem lugar amanhã, às 20:30, no pequeno auditório do Centro Cultural, revertem a favor da construção de uma escola em Timor-Leste. A iniciativa partiu da Casa de Portugal em Macau que, há um ano, visitou aquele país e se apercebeu das necessidades das crianças de uma cidade do interior.
De acordo com a presidente da direcção da Casa de Portugal, Maria Amélia António, a ideia surgiu também por este o ano do 20o aniversário da morte de Zeca Afonso. “A homenagem ao homem que ele foi seria fazer algo que soubéssemos que ele também faria com muito gosto”, salientou.
Para os músicos, o projecto, que é recente, cresceu depois do convite da Casa de Portugal e principalmente pela causa a que se dedica. “Temos prazer em ajudar a pôr uns quantos tijolos na escola de Timor-Leste”, afirmou João Afonso explicando que também o seu tio, José Afonso, esteve muito ligado à causa timorense.
O facto de terem seleccionado temas menos familiares ao público pretende ser uma forma de “contribuir para uma leitura diferente de José Afonso”, frisou João Afonso. Por sua vez, João Lucas considera que a escolha das músicas não obedeceu a um motivo específico mas nasceu “de uma mistura de circunstâncias que estão mais relacionadas com o gesto estritamente musical de José Afonso e não sócio-político”. Isto porque, de acordo com o pianista, “por vezes dá-se muita importância a essas questões e uma parte do génio fica perdida”.
As canções têm todas em comum o facto de serem “brilhantes e complexas do ponto de vista musical, ao nível do carácter intuitivo, no contexto da música popular”, referiu João Lucas. A cumplicidade entre os músicos facilitou o arranjo dos temas. “Temos um grande respeito pela obra de José Afonso e uma proximidade muito grande com as canções”, sublinhou João Lucas.
Através da voz de João Afonso e da música ao piano de João Lucas, este pretende também ser um passeio cronológico por “um momento muito importante da vida de José Afonso que foi a infância”, destacou o vocalista do projecto “Um Redondo Vocábulo”. É uma leitura do autor “no sentido de mostrar, através de alguns poemas e canções, a atitude de liberdade de José Afonso”.
Relativamente ao concerto de amanhã à noite, e porque depois partem para Banguecoque onde repetem a actuação na Embaixada de Portugal, os artistas consideram que “em Macau a palavra será mais valorizada, porque os textos valem muito pelas palavras”. Para João Afonso, “é um pouco como se Macau servisse de prova dos nove”.
João Afonso, que soma a sua quinta passagem pelo território, confessou que a sua maior curiosidade “é ir à parte velha da cidade e ver como cresceu Macau”. Mas o músico tem outro desejo, que esta passagem pela RAEM o faça criar algo novo, tal como aconteceu quando, em 1999, cá esteve pela última vez e compôs um tema inspirado na cidade.
Durante a actuação no território, que conta com um tema inédito de José Afonso intitulado “Bombons Todos os Dias”, os músicos interpretam também baladas como “Papuça”, “Pombas Brancas” ou “Redondo Vocábulo”.

MARTA BILROJornal "Tribuna de Macau" Quarta-feira, 14 de Fevereiro de 2007

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