25 de agosto de 2007

Avanteatro - Revelar projectos de qualidade

O Avanteatro revela o que de melhor se faz em Portugal ao nível das artes de palco. Esta é a convicção de Pedro Lago e Manuel Mendonça, da organização do Avanteatro que, em conversa com o Avante!, destacaram a presença, este ano, de várias companhias que desenvolvem o seu trabalho em pequenas localidades do País.

É imenso o papel da Festa do Avante!, e em particular do Avanteatro, na promoção dos projectos culturais de qualidade que se desenvolvem por esse País fora. Para Pedro Lago, da Direcção da Festa do Avante!, este é mesmo um dos objectivos daquele espaço.
Assim se explica que as companhias presentes na edição deste ano sejam oriundas dos mais variados pontos do País. O grupo O Bando está sedeado em Palmela, a Cooperativa de Teatro Bonifrates em Coimbra e a Estação Teatral desenvolve o seu trabalho no Fundão. Os grupos G.A. e Teatro Espelho Mágico chegam de Setúbal e o Ninho de Víboras de Almada. Já o grupo de teatro infantil Tarumba tem sede em Lisboa.
Assim, e para Manuel Mendonça, da Comissão do Avanteatro, é possível mostrar às pessoas da Grande Lisboa muito do teatro que se faz noutras zonas do País ao mesmo tempo que se mostra aos visitantes da Festa do Avante! que vêm de mais longe algum do trabalho que se desenvolve nos arredores da capital.
Para Manuel Mendonça, «há companhias que fazem um trabalho muito interessante com as populações dessas localidades» e o Avanteatro, a Festa do Avante! e o Partido «têm o dever de mostrar esse trabalho e apoiá-lo». «A nossa maior tristeza – afirmou Pedro Lago – é não podemos trazer todos.» Mas, concordam, para o ano há mais Avanteatro.
E quando o assunto é o apoio prestado aos projectos culturais, prosseguem os dois responsáveis, o Avanteatro ganha uma importância ainda maior. Cada vez o Estado – ao nível central ou local – apoia menos as artes, empurrando essa responsabilidade para os privados e para a lógica do lucro. No Porto, por exemplo, o projecto que se vinha desenvolvendo em torno do Rivoli foi desmembrado e entregue a privados, acusam os responsáveis.
Em Portugal, há mesmo uma situação contraditória no que respeita à atribuição de subsídios a projectos teatrais: numa alínea propõe-se apoiar as novas tendências teatrais e, ao mesmo tempo, o tempo de existência e actividade de um grupo é igualmente um critério. O fim dos subsídios a algumas companhias, bem como a introdução da lógica do lucro, afastaram o público dos teatros, devido ao aumento do preço dos bilhetes. Desta ou de outra forma, precisou Manuel Mendonça, «conseguiram destruir muitas companhias de teatro» e refrear a explosão cultural que se deu com a Revolução de Abril.

Mais do que teatro

Mas no Avanteatro não se pode apenas ver teatro. Pode-se também entrar no teatro. No domingo, o grupo Tarumba leva à cena a peça infantil «Guarda da Noite». No final, segue-se uma oficina na qual as crianças poderão participar na concepção de marionetas e de cenários. O objectivo, conta Pedro Lago, é levar as crianças a entenderem o teatro e a desenvolverem o gosto por esta arte. Porque, como um dia disse Berthold Brecht, se as pessoas perceberem as regras do teatro como percebem as do futebol haverá teatros cheios!
Para o dirigente da Festa do Avante!, existem mais critérios para além da qualidade, apesar de ser este o dominante. Sem espartilhar nem limitar a criatividade dos grupos, as peças levadas à cena integram-se nos ideais democráticos dos comunistas. A peça da Cooperativa de Teatro Bonifrates «Eu não sou o Rappaport» trata do drama de milhares de idosos nas sociedades actuais.
Como já vem sendo hábito, o Avanteatro não se limita ao teatro mas às chamadas artes de palco. No bar, haverá mesmo música. O projecto ZUT funde estilos musicais interpretados apenas com voz e harpa e o trio Filipe Raposo coloca em cena nomes centrais do Jazz nacional: o próprio Filipe Raposo, Carlos Bica e José Salgueiro. O programa de domingo fecha com uma incursão do jovem músico de Almada André Santos pela música cigana Klezmer – um novo projecto depois de percorrer alguns dos mais notáveis nomes da música portuguesa. Antes João Afonso e João Lucas evocam Zeca Afonso nos vinte anos da sua morte com «Redondo Vocábulo». Trata-se de um espectáculo onde se dá a conhecer trabalhos nunca editados do histórico músico português, bem como temas menos conhecidos, os «lados B».
A dança está a cargo do Quórum Ballet, composto por bailarinos saídos do grupo da Gulbenkian, recentemente extinto. Vêm de Nova Iorque directamente para a Festa, destaca Manuel Mendonça.
«Ensaio sobre o Teatro» é a proposta deste ano para o cinema documental. Para Pedro Lago, trata-se da fusão entre três artes – literatura, teatro e cinema. Este filme, de Rui Simões, revela os bastidores do teatro, a preparação e interpretação da peça «Ensaio sobre a Cegueira», pelo grupo O Bando, numa adaptação ao romance homónimo do prémio Nobel português José Saramago.
Espaço de arte e cultura, o Avanteatro não esquece quem a elas dedicou toda a sua vida. Para além da evocação a José Afonso, serão também homenageados Adriano Correia de Oliveira e o actor Henrique Viana, recentemente falecido.

Uma programação rica

Sexta-feira, 7 de Setembro

22h00
Teatro no exterior
O Bando: «Cabeça de pregos sem cabeça»
23h45
Teatro
Estação Teatral: «Pax Romana»
01h00
Música
Ela não é francesa Ele não é espanhol: «Voz e harpa/zut»

Sábado, 8 de Setembro

11h00
Teatro para a infância
G.A. e Teatro Espelho Mágico: «O quarto dos brinquedos»
15h00
Teatro
Ninho de víboras: «Punchwork»
16h00
Cinema documentário
Rui Simões: «Ensaio sobre o Teatro»
20h00
Teatro
Bonifrates: «Eu não sou o Rappaport»
22h15
Teatro no Exterior
O Bando: «Cabeça de pregos sem cabeça»
23h30
Dança
Quórum ballet: «4 peças de Daniel Cardoso»
00h30
Música
Trio de Filipe Raposo: «Jazz»

Domingo, 9 de Setembro

11h00
Teatro para a infância
Tarumba – Marionetas de mesa: «Guarda da noite» (seguido de oficina)
15h00
Teatro para a infância
Tarumba – Marionetas de mesa: «Guarda da noite» (seguido de oficina)
16h30
Cinema documentário
Rui Simões: «Ensaio sobre o Teatro»
20h30
Música
João Afonso e João Lucas: «Redondo vocábulo», evocação de José Afonso
21h30
Música
André Santos: «Melech Mechaya» (música Klezmer)

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