9 de janeiro de 2008

'Songbook' de José Afonso à espera de autorização

O primeiro songbook com a transcrição das canções de José Afonso (a integral da obra gravada pelo músico) está finalizado, mas aguarda autorização da família para ser publicado há mais de três anos.

O livro, da autoria de José Mário Branco, João Loio, Guilhermino Monteiro e Octávio Fonseca, foi recusado por Zélia Afonso, viúva e detentora de 51% dos direitos sobre a obra de José Afonso, em Outubro de 2003, mas permanece nos planos da Campo das Letras, editora livreira associada ao projecto. José Mário Branco revelou ao DN que "o livro, planeado em conjunto com Jorge Araújo, da Campo das Letras, esteve para ser publicado a 25 de Abril de 2004", edição nunca concretizada depois de Zélia Afonso ter comunicado a sua recusa ao colectivo responsável pela transcrição dos temas e à Sociedade Portuguesa de Autores. Quanto aos motivos para a recusa da publicação, José Mário Branco deixa as explicações para Zélia Afonso, que o DN tentou contactar sem sucesso até ao fecho desta edição.

O songbook de José Afonso é o primeiro de uma iniciativa que procura "recuperar a memória de música popular portuguesa", diz-nos José Mário Branco. As obras de Adriano Correia de Oliveira, Carlos Paredes, Fausto e Sérgio Godinho fazem parte do mesmo projecto editorial. No entanto, José Mário Branco (que prepara também o seu próprio songbook) adianta que "nenhuma edição faz sentido sem o livro com as canções do Zeca. Ele tem que ser a nossa prioridade. Por isso, a preparação de todos esses títulos está, neste momento, em stand by".

O músico e co-autor do songbook justifica a publicação do livro com a "necessidade de esclarecer uma nova geração sobre o legado de um nome fundamental". Ao mesmo tempo, recorda discos de tributo e homenagem que vão surgindo no mercado - nomeadamente os que em 2007 assinalaram os 20 anos da morte de José Afonso - lembrando que são frequentes os erros: "Uma coisa é reinterpretar um tema. Outra é tentar recriá-lo e não o fazer de acordo com o método do seu autor. São falhas que acontecem naturalmente quando não há nenhum meio para que a informação seja transmitida da forma mais correcta."

José Mário Branco questiona também a actual legislação sobre "o direito de autor póstumo", recordando "o direito de uma comunidade sobre uma obra essencial ao seu crescimento cultural"

Tiago Pereira | Diário de Notícias | 9.1.08

8 Comments:

Edward Soja disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Edward Soja disse...

Ser original implica voltar às origens. Foi o que o Zeca fez, inspirando-se, bebendo, recriando, inovando, alimentando e engrandecendo o cancioneiro popular português.

As novas gerações que pretendam fazer música têm de ter a consciência primeira de que o mundo não nasceu com elas, e que há uma história que os trouxe até aqui.

Está tudo nas origens. E José Afonso está, como muitos sabem, por trás da canção portuguesa que ainda hoje podemos ouvir. Cada vez menos. E pior ainda ficará sem poder contar com trabalhos importantíssimos como o que os seus amigos têm em mãos.

Não percebo a recusa de Zélia. Mas gostava de saber os motivos.

Anónimo disse...

A obra é genial! O Autor além de genial SÓ pode e merece ser divulgado!Os "trabalhadores" dessa obra honram o Zeca!Que obstáculos esconsos existem para que o livro não veja a "luz do dia"?
Paulo Esperança
(membro dos Orgãos Sociais da AJA)

samuel disse...

Já o disse noutro lado e digo aqui.
Desde que "aterrei" em casa do Zeca, em Setúbal, em 72, que guardo uma imagem da Zélia:
Uma mulher que me tratou como se fosse da casa, e sobretudo, disposta a amar, cuidar e defender o Zeca com unhas e dentes.
Será que neste caso foi necessário? Ela o dira, certamente.
Mas que eu queria o "songbook", queria...

Anónimo disse...

Penso que é muito importante que a edição se concretize pela porta que abre para um espaço de enorme relevância na nossa cultura que é José Afonso. Pelo espaço de patilha que pode criar entre gerações que tiveram o privilégio de ver e ouvir e conhecer o Zeca e as que apenas ouvem falar dele.
Parece-me ainda que os elementos responsáveis pela organização do songbook são garantia de grande seriedade na sua elaboração. Isto para dizer que não percebo e que era importante que a Zélia esclarecesse o que não sabemos mas que impede a edição da obra musical e poética de José Afonso, uma coisa que noutros países é felizmente tão normal e acessível (Brel, Brassens, etc, etc)

Anónimo disse...

Seria bom que os principais interessados se explicassem. Estamos todos à espera das explicações e do "songbook", já agora...

Anónimo disse...

Esperemos que o tal "Songbook" (ou outros "Songbook") seja publicado, para perservar a nossa memória colectiva e pôr a malta a Zecar por aí com as guitarras. Sempre estranhei não conseguir encontrar publicações musicais dos nossos artistas quando se vê que por esse mundo fora, não há disco foleiro que não saia sem se publicar logo uma quantidade de songbooks a acompanhá-lo.Só estou a tentar perceber.

Anónimo disse...

Os dois filhos mais velhos do Zeca aceitaram o pedido de publicação do livro, e apoiam esta iniciativa.