tag:blogger.com,1999:blog-12146417.post116539391968227669..comments2023-10-10T16:53:28.442+01:00Comments on Associação José Afonso: Hoje na Associação 25 de Abril em LisboaAssociação José Afonsohttp://www.blogger.com/profile/11564092208927463221noreply@blogger.comBlogger1125tag:blogger.com,1999:blog-12146417.post-1165604453598914562006-12-08T19:00:00.000+00:002006-12-08T19:00:00.000+00:00É bom passar por aqui e ouvir o nosso saudoso Zeca...É bom passar por aqui e ouvir o nosso saudoso Zeca Afonso. E também é bom saber que há cidadãos que não dormem e se revoltam.<BR/>Bem-hajam!<BR/><BR/>========== <BR/><BR/><B>Pássaros Cruéis<BR/><BR/><BR/>Um fluxo de dólares e de sangue<BR/>jorrando sobre a Mesopotâmia.<BR/>Um sino de fogo embutido nos umbrais do deserto.<BR/>E a fúria insana.<BR/>O crude sobre o equinócio<BR/>ensaiando um concerto de morte.<BR/><BR/><BR/>E há falcões.<BR/>Falcões que dançam e pairam sobre os soluços<BR/>do amanhecer sangrento.<BR/>Talvez abutres.<BR/><BR/><BR/>Fogo e cinzas calcinantes,<BR/>estilhaços, gritos, pedaços de argila.<BR/>A morte galopando sobre as cidades.<BR/><BR/><BR/>Breve, um talismã tomba sobre o asfalto.<BR/>Um turbante esvoaça, branco,<BR/>sob o luar negro de fumo.<BR/>Calou-se a flauta de vento<BR/>que flébil gemia sob a tamareira.<BR/>Eternos e piedosos, a Lua e Vénus<BR/>velando a morte.<BR/><BR/><BR/>Cessaram os sorrisos no país de Aladino.<BR/>Sangue e lágrimas, apenas.<BR/>Um sem-fim de covas, e cemitérios, e morte.<BR/>A face lúgubre e sombria do fim.<BR/><BR/><BR/>Onde estão as crianças<BR/>acordadas no seu sonho peregrino?<BR/>Onde a civilização das areias?<BR/>Onde Gilgamesh, o herói de todas as batalhas?<BR/>Onde Babilónia, a dos Jardins Suspensos?<BR/>Onde o berço da civilização? Onde a justiça?<BR/>Onde as palavras que brotaram da argila?<BR/>Onde a água de sonho do Tigre?<BR/>Onde o Sol, onde a Lua?<BR/>Onde a estrela levantina?<BR/>Onde os pássaros, onde a brisa?<BR/>Onde as chispas de oiro e prata<BR/>das águas de espelhos do Eufrates<BR/>agora tintas de sangue?<BR/>Onde a mulher que embalava no berço<BR/>o seu menino de olhos de mel?<BR/>Onde o menino?<BR/>Onde a Babel?<BR/><BR/><BR/>A coberto dos ventos de opróbrio e azeviche,<BR/>nabucodonosores de barro<BR/>tombam no resvalo da pedra de Sísifo<BR/>enquanto trepidantes de náusea<BR/>os cavalos de fogo do Apocalipse<BR/>migram para o frio<BR/>na companhia dos pássaros cruéis.<BR/><BR/><BR/>O verbo, distorcido, aguarda receoso<BR/>a frieza invencível da razão clara.<BR/>Viscoso e mole, o mutismo dos homens<BR/>flanqueia a gelatina estática do caos.<BR/>Morre, a pouco e pouco, a cidade de Sherazade. </B>Zénitehttps://www.blogger.com/profile/13874860298104041676noreply@blogger.com