3 de abril de 2006

Tonino Guerra

CANTO DÉCIMO PRIMEIRO

Anteontem primeiro domingo de Novembro
a névoa podia-se cortar à faca.
As árvores brancas
da geada e as estradas e planícies
pareciam cobertas por lençóis. Depois apareceu o sol
enxugando o universo e somente as sombras
permaneceram banhadas.


Pinela, o camponês, atava as cepas
com ervas secas que segurava entre as orelhas.
Enquanto trabalhava falei-lhe da cidade,
da minha vida que passara num relâmpago
do meu terror da morte.


Aí silenciou todos os rumores que fazia com as mãos
e só então se ouviu um pequeno pardal cantando ao longe.
Disse-me: medo porquê? A morte nem sequer é maçadora.
Apenas vem uma vez.

(1920)
(in "O Mel»,Tradução de Mário Rui de Oliveira)

assírio&alvim 2004

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