O repertório de José Afonso, falecido há 20 anos, inspirou dois grupos musicais, Frei Fado d´El Rei e Erva de Cheiro, que preenchem os seus dois novos álbuns apenas com temas do autor de «Grândola, Vila Morena».
O álbum dos Erva de Cheiro, que estará disponível nas discotecas já esta semana, inclui essencialmente temas de raiz popular com arranjos do grupo, explicou à Lusa o músico Vítor Sarmento.
O álbum intitula-se «Que viva o Zeca» e inclui temas como «Milho verde», «Moda do Entrudo», «Menino do bairro negro», «Maria Faia» ou «A morte saiu à rua», homenagem ao escultor José Dias Coelho, assassinado pela PIDE-DGS.
«O Zeca é uma fonte de inspiração ainda hoje para todos nós, pela inovação musical que o caracteriza e pela mensagem humanista que transmitiu», disse Sarmento (voz, bandolim e viola dos Erva de Cheiro).
«As inovações musicais do Zeca estão muito ligadas às pesquisas musicais que fez o etnólogo Michel Giacometti em Portugal», assinalou.
Salientou ainda o facto de, «à raiz popular musical, Zeca Afonso ter associado uma mensagem de solidariedade e fraternidade».
Os Erva de Cheiro apresentam este álbum em vários espectáculos dedicados ao cantautor, dia 20 de Abril em Santo André (Barreiro), dia 24 de Abril em Vale de Figueira em São da Talha (Loures) e no dia 27 na Feira do Livro de Moura (Beja).
Os Frei Fado d´El Rei, por seu turno, estão ainda em estúdio a gravar temas de José Afonso e contam lançar, dia 26, em Abril, na Casa da Música, no Porto, o novo álbum, que se intitulará «Senhor poeta».
«O álbum será composto especialmente por poemas que despertaram a atenção de José Afonso e para os quais ele compôs música», disse à Lusa um dos seus componentes, o músico Ricardo Costa.
Integram o álbum temas como «Verdes são os campos», de Luís de Camões, «No comboio descendente», de Fernando Pessoa, ou «Senhor poeta», de Manuel Alegre, que dá o título ao álbum.
Outros temas do alinhamento são «Rio largo e profundo», «De não saber o que me espera», «Senhor arcanjo» ou «Canto moço», todos com letra e música de José Afonso.
Para os Frei Fado D´El Rei, fazer um álbum de homenagem a José Afonso é «ir ao encontro das raízes», disse Ricardo Costa.
Os Frei Fado D´El Rei surgiram em 1994, quando integraram uma colectânea de homenagem ao cantautor, «Filhos da Madrugada», editada pela extinta BMG, na qual interpretaram «Que o amor não me engana», tema que recuperaram para este novo álbum.
Para o grupo do Porto, «José Afonso continua a ter uma sonoridade contemporânea e é incontornável para as novas gerações».
«José Afonso trouxe uma roupagem inovadora à música portuguesa, explorando o âmago da música tradicional e popular», explicou Ricardo Costa.
Por ocasião dos 20 anos da morte de José Afonso aos 57 anos, a 23 de Fevereiro de 1987, várias iniciativas têm sido levadas a cabo e outras estão agendadas.
Com Adriano Correia de Oliveira, José Afonso foi umas das figuras centrais da canção de intervenção em Portugal.
Quarta-feira, à noite é inaugurada no Clube Literário do Porto, em parceria com o Núcleo do Norte da Associação José Afonso, a exposição «José Afonso: Vida e obra».
Depois da inauguração, haverá um debate subordinado ao tema «José Afonso: Testemunhos», com a participação de Alípio de Freitas e Benedicto Garcia Villar.
Para o mesmo local estão ainda agendados, quinta-feira à noite, uma tertúlia sobre «Música e poesia de José Afonso», e, sexta-feira, um debate sobre «José Afonso, a obra poética», com a participação de Elfried Elgelmeyer e José António Gomes.
No sábado, também à noite, realiza-se um outro debate, «José Afonso, a música», com José Mário Branco e Francisco Fanhais, que conviveram com o compositor e poeta.
No Teatro São Luiz em Lisboa, a cantora Cristina Branco continua a apresentar no Jardim de Inverno, às sextas-feiras e sábados, um espectáculo constituído apenas por criações de José Afonso, com base nas quais irá realizar um álbum.
Canção popular, de intervenção, balada e fado de Coimbra foram áreas musicais exploradas por José Afonso, que em 1985 editou o seu último álbum, «Galinhas do mato», com as colaborações de Júlio Pereira, Luís Represas, Helena Vieira, Janita Salomé, Né Ladeiras e José Mário Branco.
Diário Digital / Lusa
13-02-2007
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