5 de março de 2007

Texto de José Fanha

O ZECA AFONSO

Foi um grande cantor, um grande músico e, acima de tudo, um grande ser humano que viveu a maior parte da vida durante a ditadura fascista de Salazar e, devido às suas ideias livres, democráticas e populares, foi muitas vezes preso, proibido de ser professor, que era a sua profissão, e proibido de cantar, que era a sua paixão.

Apesar de tudo, o Zeca não se deixava ir abaixo. Misturava as suas palavras e as suas melodias com as palavras e as melodias do povo, para compor cantigas de uma grande originalidade. E era com essas cantigas que andava pelo país fora a juntar pessoas e a dizer-lhes que era possível ser feliz e era possível acabar com a ditadura e viver numa terra livre, alegre, sem prisões e sem guerra.

Tinha 18 anos quando conheci o Zeca. Eu escrevia e dizia poemas e juntei-me a ele e a outros que faziam da poesia e da canção uma forma de resistir à ditadura, à repressão e à infâmia que é uma palavra que quer dizer falta de honra, que era o que faltava a todos os que seguiam a ditadura do Salazar.

Como se não bastasse, o Zeca era mais que tudo isto. Era um homem bom, de espinha direita, sempre desejoso de saber e de aprender com todos. Queria saber notícias de outras paragens, dos homens que sofriam em África, na América do Sul, no Brasil e noutros países, mesmo nos mais longínquos. Lia e estudava permanentemente para saber mais e poder ensinar melhor, porque ele gostava muito de ensinar mesmo depois que a ditadura o tivesse proibido de ser professor.

Fazia amigos em toda a parte e à sua volta juntava-se sempre muita gente, músicos, poetas, artistas. Onde o Zeca estava havia sempre uma porta aberta, uma mesa posta e um canto para quem quisesse descansar.

Era assim o Zeca e ainda hoje as suas canções fazem parte da minha vida e da vida dos muitos homens, jovens e meninos que encontram na sua poesia e na sua música um alento para tentar tornar o mundo num lugar mais feliz para todos.

José Fanha
Fevereiro 2007
20 anos depois da morte do Zeca Afonso

Escrito a pedido do jornal de uma Escola do Cacém.

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