9 de abril de 2007

Adriano nasceu há 65 anos

Adriano Correia de Oliveira foi, acima de tudo, um homem simples. Talvez por isso não tenha a notoriedade de outros cantores da sua geração. Abordava as canções como pedaços de vida. Tinham de ser relevantes para a sociedade. Adriano compunha para deixar um traço. Compunha por pensar que esse traço podia despertar no outro uma emoção, uma perplexidade, uma repulsa.

Adriano Correia Gomes de Oliveira nasceu no Porto em 9 de Abril de 1942, filho de Joaquim Gomes de Oliveira e de Laura Correia. Ainda muito novo foi viver para Avintes, onde fez a escola primária. Depois de completar os estudos secundários, inscreveu-se no curso de Direito da Universidade de Coimbra. Gostava de participar na vida cultural da Universidade. Cantou no Orfeão Académico de Coimbra e fez teatro. Não tardou a descobrir o fado. A sua voz triste era perfeita para o tom romântico e contemplativo da tradição coimbrã.

No início da década de 60 tornou-se militante do PCP. Era um homem de esquerda que gostava da luta política. Moldado por convicções inabaláveis, lutou sempre contra um país que vivia adormecido. Em 1962, participou nas greves académicas e concorreu às eleições da Associação Académica, através da lista do Movimento de Unidade Democrática (MUD). Todas estas movimentações levaram-no a gravar, no seu terceiro álbum, uma das baladas fundamentais da sua carreira, “Trova do Vento que Passa”, com poema de Manuel Alegre. Versos como “Há sempre alguém que resiste / Há sempre alguém que diz não” entraram no espírito de todos os que ansiavam pela liberdade. Foi o hino do movimento estudantil.

Em 1966 casou-se com Matilde Leite, com quem teve dois filhos. Veio para Lisboa, onde pretendia retomar o curso. Como ainda estava no primeiro ano, foi obrigado a cumprir o serviço militar. Nunca parou de gravar e de ajudar os movimentos estudantis na luta contra o regime salazarista. Em 1969, o álbum intitulado “Adriano Correia de Oliveira” foi considerado o melhor disco do ano, o que o levou a participar no famoso programa de televisão “Zip-Zip”.

Depois de ter terminado o serviço militar, arranjou emprego no gabinete de imprensa da Feira Internacional de Lisboa (FIL). Nesse mesmo ano decidiu avançar com o álbum “O Canto e as Armas”. Habituado a gravar discos com canções independentes umas das outras, Adriano Correia de Oliveira gravou um álbum conceptual, construído à volta de um poema de Manuel Alegre. Foi uma opção arriscada, tanto artística como politicamente, já que Manuel Alegre era um autor proibido. Depois de “O Canto e as Armas”, Adriano continuou a produzir discos políticos que denunciavam a realidade portuguesa, tendo marcado a existência de muitos que o ouviram. “São grandes aqueles que modificam a vida das pessoas”, lembra a historiadora Irene Pimentel.

Chegou a Revolução de Abril, e Adriano Correia de Oliveira já podia cantar, com alegria, a liberdade. Participou em vários espectáculos, em Lisboa e no Porto. Sempre considerou que a cultura deveria ser para todos e fez os possíveis por espalhá-la pela população. Em 1974 fundou o “Colectivo de Acção Cultural” e andou pelo País, com o apoio do Partido Comunista, a anunciar a Revolução. Era a época do PREC e de todas as utopias. Em 1975 recebeu o prémio de melhor artista do ano, atribuído pela revista britânica “Music Week”.

Mas nem por isso se deixou paralisar pela prisão das recordações. Continuou o seu combate contra a injustiça social, com uma sofreguidão de gozar o “tempo que passa”. No fim da década de 70 Adriano fundou a cooperativa artística Cantarabril, o sonho da sua vida, mas não tardaram os problemas internos que culminaram na sua expulsão, em 1981. Nunca deixou de ter projectos, mas a morte interrompeu-os. Morreu em Avintes em 16 de Maio de 1982.

Adriano Correia de Oliveira foi um dos renovadores da canção de Coimbra. Um artista extraordinário, que deixou canções eternas, que urge redescobrir.

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