Drumming e J P Simões com «braços como vento» recordaram e recriaram as canções de Zeca. Ainda «caem cometas no alto mar». :: 03-05-2007
30 de Março de 2007, Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém (Lisboa)
É, de certeza, a mais arriscada homenagem a José Afonso, em ano que assinala o vigésimo aniversário do desaparecimento do grande artista universal português. Mas não é só original, é soberba no infinito.
Steel Drumming toca Zeca Afonso, projecto nascido no seio dos Drumming – Grupo de Percussão, arrojado grupo sedeado no Porto, apresentava ainda a companhia do cada vez mais incontornável JP Simões, para cantar. É quase-sempre assim. A percussão, Zeca, e as vozes ora de Simões (recém-baptizado como Bidões por estes amigos nortenhos), ora Miguel Guedes (Blind Zero), ora Sofia Ribeiro. Varia mas não varia. Porque essa é a regra.
Nesta noite Lisboeta foi Simões. Primeiro hesitante, numa descrição que confunde quem assistiu às suas performances enquanto líder dos Belle Chase Hotel ou até dos Quinteto Tati. Depois, seguríssimo, o carisma e subtileza do costume, na mesma descrição de profundo respeito pelo cantautor e pelos tocadores do Porto. À sua volta, o som enfeitiçante dos bidões. Os chamados steel drums (ou steel pans), instrumentos criados a partir de bidões de aço de ilhas caribenhas, e o ritmo, a harmonia, a melodia, o pequeno auditório do CCB esgotado, o génio de Zeca, uma sala suspensa na ousadia.
Venham mais cinco é a primeira frase de palco e abre caminho para uma ponte de criatividade indescritível. A de José Afonso, já por si só condenada a complexas experiências musicais. A dos Drumming sobre a de Zeca, substância sonora absolutamente viciante. O registo de vocal JP Simões faz lembrar outro que merece vénia: José Mário Branco. Mas depois passa. E passa a fazer lembrar ninguém mais para além de quem lhe quisermos imaginar. E todos imaginam o autor Balada de Outono, não há dúvida. «À sombra não me calo», canta outro homem que também não se cala sobre as palavras do primeiro, que o disse.
É uma abordagem arriscada, mas sem perder o norte. É mais uma aplicação prática da universalidade de José Afonso, a música itinerante que desembarca numa vertiginosa reinterpretação de O Canarinho. Garrafas, percussões menos presas ao bidão, maior liberdade rítmica num crescendo de intensidade rejuvenescedora.
O instrumental de Mário Laginha sobre Redondo Vocábulo e os originais inspirados em Zeca, compostos por Nuno Côrte-Real e Carlos Guedes constituíram também momentos para ficar de boca aberta. A mesma de cada vez que se ouve Senhor Poeta [nota: não incluída no alinhamento] na voz do genial cantador. A mesma que é lágrima e dança. «Cavalgam Zebras, Voam duendes, Atiram pedras, Arrancam dentes. Senhor poeta, Vamos dançar, Caem cometas, No alto mar.»
A proposta Steel Drumming toca Zeca Afonso já passou pelo Porto, Faro, Sines, Lisboa e Alcobaça e tem agenda preenchida para o futuro imediato. Entroncamento (no dia 5 de Maio), Palmela (12), Seixal (2 de Junho), Coimbra (dia 8 de Junho), Estarreja (dia 18), Santa Maria da Feira (dia 29 de Setembro), Sobral de Monte Agraço (dia 20 de Outubro), Abrantes (dia 26 de Outubro), Montijo (dia 9 de Novembro), Redondo (24 de Novembro) e Torres Vedras (dia 1 de Dezembro) são as localidades com passagem confirmada.
Sílvio Mendes Rascunho
30 de Março de 2007, Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém (Lisboa)
É, de certeza, a mais arriscada homenagem a José Afonso, em ano que assinala o vigésimo aniversário do desaparecimento do grande artista universal português. Mas não é só original, é soberba no infinito.
Steel Drumming toca Zeca Afonso, projecto nascido no seio dos Drumming – Grupo de Percussão, arrojado grupo sedeado no Porto, apresentava ainda a companhia do cada vez mais incontornável JP Simões, para cantar. É quase-sempre assim. A percussão, Zeca, e as vozes ora de Simões (recém-baptizado como Bidões por estes amigos nortenhos), ora Miguel Guedes (Blind Zero), ora Sofia Ribeiro. Varia mas não varia. Porque essa é a regra.
Nesta noite Lisboeta foi Simões. Primeiro hesitante, numa descrição que confunde quem assistiu às suas performances enquanto líder dos Belle Chase Hotel ou até dos Quinteto Tati. Depois, seguríssimo, o carisma e subtileza do costume, na mesma descrição de profundo respeito pelo cantautor e pelos tocadores do Porto. À sua volta, o som enfeitiçante dos bidões. Os chamados steel drums (ou steel pans), instrumentos criados a partir de bidões de aço de ilhas caribenhas, e o ritmo, a harmonia, a melodia, o pequeno auditório do CCB esgotado, o génio de Zeca, uma sala suspensa na ousadia.
Venham mais cinco é a primeira frase de palco e abre caminho para uma ponte de criatividade indescritível. A de José Afonso, já por si só condenada a complexas experiências musicais. A dos Drumming sobre a de Zeca, substância sonora absolutamente viciante. O registo de vocal JP Simões faz lembrar outro que merece vénia: José Mário Branco. Mas depois passa. E passa a fazer lembrar ninguém mais para além de quem lhe quisermos imaginar. E todos imaginam o autor Balada de Outono, não há dúvida. «À sombra não me calo», canta outro homem que também não se cala sobre as palavras do primeiro, que o disse.
É uma abordagem arriscada, mas sem perder o norte. É mais uma aplicação prática da universalidade de José Afonso, a música itinerante que desembarca numa vertiginosa reinterpretação de O Canarinho. Garrafas, percussões menos presas ao bidão, maior liberdade rítmica num crescendo de intensidade rejuvenescedora.
O instrumental de Mário Laginha sobre Redondo Vocábulo e os originais inspirados em Zeca, compostos por Nuno Côrte-Real e Carlos Guedes constituíram também momentos para ficar de boca aberta. A mesma de cada vez que se ouve Senhor Poeta [nota: não incluída no alinhamento] na voz do genial cantador. A mesma que é lágrima e dança. «Cavalgam Zebras, Voam duendes, Atiram pedras, Arrancam dentes. Senhor poeta, Vamos dançar, Caem cometas, No alto mar.»
A proposta Steel Drumming toca Zeca Afonso já passou pelo Porto, Faro, Sines, Lisboa e Alcobaça e tem agenda preenchida para o futuro imediato. Entroncamento (no dia 5 de Maio), Palmela (12), Seixal (2 de Junho), Coimbra (dia 8 de Junho), Estarreja (dia 18), Santa Maria da Feira (dia 29 de Setembro), Sobral de Monte Agraço (dia 20 de Outubro), Abrantes (dia 26 de Outubro), Montijo (dia 9 de Novembro), Redondo (24 de Novembro) e Torres Vedras (dia 1 de Dezembro) são as localidades com passagem confirmada.
Sílvio Mendes Rascunho
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