17 de julho de 2007

"Chula da Póvoa" e "Nossa Senhora da Guia" seguido de testemunho de Benedicto Garcia Villar



Os gaiteiros Treixadura intrepretam um tema tradicional Galego. Os gaiteiros de Lisboa interpretam um tema tradicional Português. O que se vê é uma mostra da cultura comum entre galegos e portugueses...




Testemunho de Benedicto Garcia Villar
No verão do 73 fomos á Illa da Fuzeta para estrear umas tendas de campismo que compráramos em "Trigano" numa viagem a França e Bélgica, á que viera o Zeca e o meu camarada Bibiano.
A estrea foi por tudo o alto e a ela asistiron o Zeca e a Zèlia, os miúdos, Pedro e Joana e nós, Maite e eu. A do Zeca, familiar, com vários quartos, já se adivinhava de lonje que não ía ser morada do seu dono que na altura andava lixado coa súa perenne insomnia. Nós, os galegos, ficamos naquela tenda máis pequena que para dois era de máis. Aliás, e único que había a fazer naquela illa despovoada (a penas ían pessoas e non había nem "vaporetto" nem nada parecido e assim as viajems ao "continente" eram a "brazo", a vogar co remo) era poñer o coiro, tudo o coiro, ao sol, para escándalo, é verdade, de algúms. Si había dúas Zeca e família cada día para tomar aquela marabilla de sardinhas grelhadas. Não tenho a certeza de se são as melhores as de além ou as de Rianxo, na ría de Arousa, ou as de Safi, no atlántico marroquino, onde as tomamos no ano 2000 numa viajem que fizemos coa Zèlia e onde há muitos portugueses a travalhar, entre eles um tío da Zèlia que era a quem íamos em particular a visitar naquele porto tão cheio de color e alegría. Isto deve ser aplicável a casi tudos os portos, hajo eu, de jeito que não estou a descuvrir nada novo, pero dado que pasávamos pelo sabor das sardinhas...
segundo as súas fontes, era cantada nas celebrações nas dúas beiras do Minho, no norte galego e no sul portugués. A canção, simples de composição, tinha tres quadras:

Nosa Senhora da Guía
Guía aos homens do mare
Venha ver a barca vela
Que se vai deitar no mare
Nosa Senhora vai dentro
Os anjinhos a remare

A partir desse momento a canção, tal e como estava, foi incluída por nós nos espectáculos que sempre realizávamos acompanhándonos mutuamente para, com máis ou menos fortuna, sumar dúas violas e, sobre de tudo, dúas vozes, pois os dois éramos moito dados a fazer dúos. Sempre era eu quem aprendía alguma nova forma de impostar, de flexionar a voz, de construir as segundas vozes á "alentejana" ou como fosse. É a vantagem de compartir com um génio: um sempre receve muito, muito, muito...

A partir do 25 de avril, não voltamos a ter esta espécie de parelha (o seu lugar sería ocupado pelo Bibiano ata o 78). Aínda que sempre mantivemos, até o fim dos seus días, a mesma cordialidade, o "guião" que tinhamos que interpretar foi outro bem diferente. Em tanto que, em Portugal, as liberdades inundavan as rúas e o Zeca tinha que dedicarse a canalizar tuda aquela energía desbordante que o mantinha em constante "bebedeira" intelectual, artística, política e humana, em Espanha aínda tardaríam em chegar: em fevereiro do 77 aínda eram prohibidos espectáculos.
No mes de maio desse ano gravei o meu primeiro L.P.: "Pola Unión" e nele havía uma canção intitulada "Nosa Señora da Guía":

Nosa Senhora da Guía
Guía ós homes do mare
Veña ver a barca vela
Que se vai deitar no mare
Nosa Señora vai dentro
E os anxiños a remare
En Ourense as gueivotas
Non saben o que é voare
Os mariñeiros traballan
No mare da liberdade
Outros pesqueiros reventan
Prós señores engordare
Hai un caravel vermello
No fusil do militare
Quen non viu cantar un vello
Non sabe o que é cantare

Coa emoção própria do neófito (e eu éra-o pois a penas gravara um e.p. de 4 canções no 68 em Barcelona) dinlhe ao Zeca o disco e ele fez o próprio e trocou-o por um dele. Neste dico estava "Chula da Póvoa" a súa versão, máis portuguesa, com uma irmá no meu disco, máis galega.
Á "Nosa Señora da Guía" aconteceulhe o melhor que lhe pode acontecer a uma canção: sem saver a súa origem, sem saver sequera quem a gravou, agúms, moços e não tão moços cántana pelas rúas...
Nesta página-e pódese ouvir um bocadinho:

http://www.ghastaspista.com/historia/polaunion.php

1 Comment:

Arno Bukanowsky disse...

Fiquei muito feliz de ver o vídeo que postei no YouTube aqui inserido. Não foi por mim produzido, mas me senti feliz por ajudar a divulgar essa cultura tão bonita e tão rica. Meus antepassados vieram de Portugal e sinto um profundo orgulho disso, dessa terra, dessa cultura, dessa língua!
Parabéns pelo blog!
Um abraço.