José Afonso tem um significado muito importante no panorama da cultura musical portuguesa. Isto, para além do valor de cada uma das suas criações, em função da comunicabilidade para com um auditório vasto e diferenciado. Um significado que tem a ver com a habitual, há muito estabelecida e felizmente em vias de ser superada, oposição entre música dita "clássica", ou "séria", e música "ligeira".
Tirante um que outro caso especial, nomeadamente a do "jazz", entendeu-se que todo e qualquer trecho de música não só portuguesa, mas europeia, tinha que ser arrumável numa das duas classes: ou na "séria" ou na "ligeira". E bem sabemos quão deplorável era, em regra, o conteúdo da segunda, com excepções, aliás, interessantes e meritórias, entre as quais avulta o exemplo de um Frederico de Freitas.
É evidente que a arte poético-musical de José Afonso não pertence, nem sequer minimamente, à esfera do ligeiro. Como tão pouco pertence essoutro caso notável de música portuguesa que é o de Carlos Paredes. O mais de salientar é que, em José Afonso, o sentido e as implicações das palavras dos poemas cantados, contribuindo embora para aquela incompatibilidade com o "ligeiro", não são factor exclusivo. O papel da música toma-se relevante, num fenómeno ao mesmo tempo unitário e dividido por dois planos.
No plano criativo, impõe-se acima de tudo o carácter português de raiz popular, isento de qualquer efeito de estilização de artificio que procurasse o afago do pior gosto musical, ou pseudomusical. É um portuguesismo autêntico que também resulta imensamente da perfeita arte de tratar a nossa língua, em termos de verdadeira música. Finalmente, no plano interpretativo, sem esquecer a inconfundível qualidade da voz, o medular sentido rítmico e a intencionalidade expressiva da articulação, gostaria de focar a peculariedade de José Afonso que talvez tenha sido, até hoje, a menos referida. A sua emissão de voz, habilmente conjugada com a tessitura estabelecida nos diferentes trechos, constitui, se não estou em erro, um dos mais actuantes ingredientes da irresistibilidade da sua mensagem de artista.
Se os encartados arrumadores de música persistirem, mesmo assim, em recusar à obra de José Afonso um lugar na categoría da música "clássica", que se apressem a rever a sua definição desta, antes que, por completo, os deixemos de tomar a sério.
Tirante um que outro caso especial, nomeadamente a do "jazz", entendeu-se que todo e qualquer trecho de música não só portuguesa, mas europeia, tinha que ser arrumável numa das duas classes: ou na "séria" ou na "ligeira". E bem sabemos quão deplorável era, em regra, o conteúdo da segunda, com excepções, aliás, interessantes e meritórias, entre as quais avulta o exemplo de um Frederico de Freitas.
É evidente que a arte poético-musical de José Afonso não pertence, nem sequer minimamente, à esfera do ligeiro. Como tão pouco pertence essoutro caso notável de música portuguesa que é o de Carlos Paredes. O mais de salientar é que, em José Afonso, o sentido e as implicações das palavras dos poemas cantados, contribuindo embora para aquela incompatibilidade com o "ligeiro", não são factor exclusivo. O papel da música toma-se relevante, num fenómeno ao mesmo tempo unitário e dividido por dois planos.
No plano criativo, impõe-se acima de tudo o carácter português de raiz popular, isento de qualquer efeito de estilização de artificio que procurasse o afago do pior gosto musical, ou pseudomusical. É um portuguesismo autêntico que também resulta imensamente da perfeita arte de tratar a nossa língua, em termos de verdadeira música. Finalmente, no plano interpretativo, sem esquecer a inconfundível qualidade da voz, o medular sentido rítmico e a intencionalidade expressiva da articulação, gostaria de focar a peculariedade de José Afonso que talvez tenha sido, até hoje, a menos referida. A sua emissão de voz, habilmente conjugada com a tessitura estabelecida nos diferentes trechos, constitui, se não estou em erro, um dos mais actuantes ingredientes da irresistibilidade da sua mensagem de artista.
Se os encartados arrumadores de música persistirem, mesmo assim, em recusar à obra de José Afonso um lugar na categoría da música "clássica", que se apressem a rever a sua definição desta, antes que, por completo, os deixemos de tomar a sério.
Como conferencista, jornalista, ensaista, historiador, professor (e até compositor) João de Freitas Branco foi o grande educador musical de várias gerações de portugueses. Era um comunicador nato. O seu programa de divulgação na rádio, O Gosto pela Música manteve-se no ar durante 30 anos (1956-86). Fez as célebres Melomania(s) para a televisão (1976-78). Foi, durante longos anos, Presidente da Juventude Musical Portuguesa e também da Academia dos Amadores de Música. Foi o melhor director do Teatro Nacional de S. Carlos (1970-74), foi professor da Universidade Nova de Lisboa e chegou a Secretário de Estado da Cultura nos tempos iniciais (e difíceis) da democracia portuguesa. É o autor de livros importantes, nomeadamente uma História da Música Portuguesa (1959) e uma biografia de Viana da Mota (1972).
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