De forma a demonstrar este facto e de forma a balançar cada vez mais as duas facetas, demos lugar no sítio da AJA à poesia não musicada de José Afonso. Com a regularidade possível iremos mudando os poemas.
Tu morres todos os dias
Tu morres todos os dias
libertando telefonemas
diante da minha mágoa
exposta à ira dos dias
levo-te cravos vermelhos
flores recentes da estação
Morres e vais caminhando
sobre uma estrada de fumo
o lume que nos sustenta
Já não cheira não tem vida
Às vezes vens-me à lembrança
descalça ao longo da praia
Vivo terrores de madraço
Com dívidas acumuladas
Seguindo de perto o tráfego
Saberei um dia amar-te
Tu morres tu pontificas
eu respiro a tua sombra
Ai repouso do guerreiro
Sobre o abismo repousas
Azeitão, 31 de Março de 1981.
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