23 de setembro de 2008

Música portuguesa na RTP: filhos e enteados (II)

Pela terceira ou quarta vez, num período de dois anos, o primeiro canal da televisão pública volta a dar grande destaque e promoção ao cantor Tony Carreira. Aconteceu no sábado passado, logo depois do programa do provedor do telespectador (em prime time, portanto), com a transmissão de um concerto gravado no Pavilhão Atlântico seguido de um documentário panegírico. Pergunta inevitável: como se explica o tratamento de privilégio que a RTP vem dando a este artista? Um artista que, apesar da popularidade que granjeou junto de certo público menos exigente e esclarecido, está bem longe de ser dos mais importantes do panorama musical português. Será que Tony Carreira (ou o seu agente de management) compra tempos de antena à RTP? Ou será que a sua presença reiterada na RTP-1 se deve a uma eventual predilecção musical, mais ou menos inconfessada, do director de programação, José Fragoso? Ou será que este, só pelo facto de Tony Carreira ser muito apreciado por emigrantes e por sopeiras (com o devido respeito por essas pessoas), entende que isso é mais do que suficiente para ser favorecido pelo serviço público? Qualquer que seja o motivo, a mim, enquanto telespectador e contribuinte, compete-me contestar tal opção. E por três razões principais que passo a enunciar. Primeira razão: Tony Carreira não é – como já referi – um artista que tenha qualidade bastante para merecer tal favorecimento (e já nem falo das cantigas plagiadas); segunda razão: a televisão pública, precisamente por ser pública e paga pelos contribuintes, não deve embarcar em estratégias de programação de gosto fácil e rasteiro, só porque à partida lhe pode garantir shares de audiência mais altos; pelo contrário, deve pautar-se por critérios rigorosos de qualidade e bom gosto, não defraudando as expectativas dos espectadores mais sensíveis, e desempenhando cumulativamente uma função pedagógica junto dos demais (os gostos também se educam); terceira razão: a televisão pública deve proporcionar igualdade de tratamento aos diversos artistas do nosso meio musical, desde que acima de um patamar mínimo de qualidade, e nunca votar ao ostracismo os que, independentemente do mérito que possuam, não têm máquinas de promoção e marketing nem andam com claques de apoio (contratadas) atrás deles para os aplaudir nos concertos. Eu até estaria disposto a dar de barato a presença de Tony Carreira na televisão pública, se me fosse dada a oportunidade de lá ver os artistas mais representativos e qualificados da música portuguesa, quer os mais consagrados quer os mais novos. A lista seria imensa, do fado à música popular portuguesa (já tive oportunidade de apontar alguns deles no texto publicado em Janeiro de 2007), pelo que não é por falta de oferta que eles não se vêem na pantalha televisiva. A verdade nua e crua é que não lhes é dada a oportunidade de aparecerem e isso jamais se poderá aceitar no serviço público.

Álvaro José Ferreira

8 Comments:

Anónimo disse...

APOIADO!!!!

Anónimo disse...

apelo a todos os amigos da AJA, para que levam esta mensagem a sério e se enviem mensagens de correio electrónico para o provedor e os funcionários "mais altos" da RTP, para que de uma vez por todas se mude este estado de coisas!
è urgente que a televisão pública divulgue o que temos de melhor na nossa música.
Ou será que é preciso ligar a TV GALICIA para ver artistas de reconhecido mérito a aparecer por lá e a divulgarem os seus trabalhos...?

Anónimo disse...

Gostava de ter sido eu a escrever o comentário do Álvaro José Ferreira, porque o sobscrevo absolutamente!!!Acabei de chegar da Suiça, da Festa de aniversário dos meus dois filhos (18 e 22 de Setembro)e vi a RTPinternacional. É confrangedor!!!!!NÃO admira, que a maior parte dos imigrantes, se sinta DIMINUIDO!!! São tratados como -ATRASADOS- pela televisão do seu próprio país!!!!Então em música...Tudo o que é lixo lá vai parar, raramente passa alguma coisa de jeito!!! Vou não só enviar o ARTIGO a todos os meus contactos como á RTP. ADELAIDE TEIXEIRA-PORTO

Anónimo disse...

compreendo o texto.mas nâo o porque de tanta indignação,todos nos sabemos como è a nossa televisao publica!vide o exemplo da proteção que eles dâo a um certo clube ca do norte..........

Anónimo disse...

Como portugues estou evergonhado, como alentejano indignado!
Bem hajas Alvaro Ferreira

Cristino Garro

Anónimo disse...

provedor.telespectador@rtp.pt

não podemos deixar passar em branco esta atitude!
Eu quero ver Pedro Barroso, Brigada Victor Jara, Quadrilha, Vitorino, Janita, Fausto, José Medeiros... e tantos outros, a passarem como é devido, na televisão pública!


é só enviar e-mails, para mostrar a nossa indignação!

Leonel disse...

Muito bem, concordo 100%! E Luis Cilia, e Fausto, e Janita, e todos os bons...

Tenho 27 anos e s quero ouvir e descobrir música portuguesa "de jeito" tenho de investigar por minha conta e risco, a TV pública não oferere alternativas à pandilha do "easy-listening".

Pelo menos o Quim Barreiros ainda tinha autenticidade e raíz folclórica (tanto que ajudou o Zeca ao gravar gaita nalguns temas), agora os brejeiros que dominam Praças da Alegria e programas da tarde...

Leonel disse...
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