Completam-se, hoje - dia 7 de Junho -, 20 anos após a morte de Nara Leão, cantora da Bossa Nova.
Recordo-me que, pouco tempo antes, numa das suas últimas viagens da sua vida - a Portugal (talvez,a última a este país) -, em entrevista ao semanário "O Jornal" (já extinto), referindo-se ao seu estilo musical, fez questão de sublinhar que não prescendia do seu violão e que se recusava a "americanizar a Bossa Nova".
Nessa deslocação, deu um concerto, na Aula Magna,em Lisboa, e, a dada altura, no palco, perguntou por Zeca Afonso ao público que a ouvia. Logo recebeu uma efusiva e prolongada salva de palmas. É que o Zeca já tinha voado, um ano antes (mais ou menos), para a Cidade Utópica
Eis poema da minha autoria dedicado a Nara, escrito no dia da sua morte. Sem saudosismos; a intenção é mostrar aos mais novos que a modernidade e o futuro têm alicerces nestes belos testemunhos de vida, que merecem maior divulgação.
- A Musa da Bossa Nova
“Finda a tempestade,
O Sol nascerá”
Nara Leão - interpretando "O Sol nascerá"
Abram todas as celas!
Libertem as entranhas
da maior ambição:
Apaguem as estrelas
do eterno pensamento;
Desabem as montanhas
da amarga escuridão;
Evaporem os rios
aos céus do sofrimento;
Afundem os navios
da nossa imensidão;
Já não façam acenos
ao deus do coração;
Não lavrem os terrenos
rurais duma Canção
com os dedos da terra
em punhados de pão,
que a Musa já enterra
a lei dos coronéis
com o seu violão
na lenda dos vergeis,
para a qual não há guerra,
para a qual não há leis...
contra Nara Leão!
Acenderam-se as luzes
na Cidade de Nara:
Cantaram rosas e urzes
num jardim que renova
a morte necessária!
- Não choremos, cantora,
Musa da Bossa Nova:
Aos olhos dos chacais,
no altar dos tribunais,
a morte é para todos...
Com ela, somos todos...
sempre todos iguais!
07 de Junho de 1989
In “VERTENTES DA MESMA LUZ” (1992)
José Carlos Pereira
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