A Câmara de Coimbra vai lançar um livro que pretende alterar a imagem mítica em torno de Zeca Afonso, durante um "Memorial" em homenagem ao cantor e compositor, que inclui música, dança e poesia.
Da autoria de Jorge Cravo, a obra "José Afonso: da boémia coimbrã à solidariedade utópica (1940-1969)" aborda do vida do cantor enquanto viveu em Coimbra.
A apresentação será feita a 02 de Agosto, dia em que o cantor faria 80 anos se fosse vivo, marcando o arranque do "Memorial José Afonso (1929-2009)", a decorrer até 05 de Outubro.
"O que pretendi (com o livro) foi desmistificar o Zeca Afonso. Ele não era aquele mito que muitas pessoas fazem crer, era uma pessoa normal, mas um pequeno génio que só aparece de cem em cem anos", disse hoje, em conferência de imprensa, Jorge Cravo.
O cultor da Canção de Coimbra retrata Zeca Afonso como uma "uma pessoa de carne e osso igual a milhares de estudantes que passam por Coimbra, com as suas ideias, manias e sonhos".
"Andar sempre atrás de si com um saco de comprimidos para dormir e outro de comprimidos para acordar, sair de casa sem uma meia calçada, com um sapato castanho e outro preto ou levar a saia preta da mulher pensando que era a capa (de estudante)" são algumas das "manias" de Zeca Afonso referidas por Jorge Cravo.
Zeca Afonso "era excêntrico, com uma grande veia poética e aos poetas tudo se desculpa", disse.
"Em Coimbra, ele era considerado um pouco doido, mas não acho. Com este livro pretendo demonstrar a esta gente mais nova que pode fazer o que o Zeca fez à Canção de Coimbra, dar-lhe a volta que entender, com viola ou sem viola, com guitarra ou sem guitarra", afirmou Jorge Cravo.
Com o "Memorial", a autarquia de Coimbra pretende demonstrar "a gratidão da cidade" a Zeca Afonso e "enaltecer aquele que tem sido muitas vezes esquecido", segundo o vereador da Cultura, Mário Nunes.
"Um homem que devia ter morrido num lar ou numa cama em condições e a quem até os medicamentos lhe faltaram no final da vida", lamenta o autarca.
Enquanto esteve em Coimbra, Zeca Afonso viveu em várias casas, entre as quais uma na Av. Dias da Silva, onde será descerrada uma placa identificativa, a 02 de Agosto.
O programa hoje anunciado inclui uma exposição biodiscográfica de Zeca Afonso e espectáculos com a participação da Companhia Bengala, Grupo Canção de Coimbra, Companhia de Dança Contemporânea, Quarteto de Cordas da Orquestra Clássica do Centro, Luísa Amaro (guitarra portuguesa) e Mário Laginha (piano), entre outros.
Em "conversas a meio da tarde" serão abordados a vivência coimbrã, a música e a poesia de Zeca Afonso.
in Jornal de Notícias
1 Comment:
Não considerando ser a melhor ou mais digna opção viver a sua doença (até ao desenlace fatal a 23de Fevereiro de 1987)num lar, José Afonso permaneceu na sua casa até o dia 22 Fevereiro (data em que uma asfixia obrigou a um internamento no serviço de cuidados intensivos do Hospital de Setúbal),rodeado pela sua familia e amigos, os quais lhe asseguraram todo o afecto e apoio possíveis.
A afirmação de que lhe faltaram medicamentos é redondamente falsa: foi esse mesmo apoio, alargado a uma vasta rede solidária em Portugal e no estrangeiro (onde José Afonso goza de enorme reputação e respeito), rede essa constituída por numerosos amigos e admiradores, entre as quais se incluía gente adversa às suas opções políticas, que tornaram possível a José Afonso poder ter acesso à medicação mais actualizada a essa data, aplicada à doença fatal,esclerose lateral amiotrófica.
Helena Afonso (filha de José Afonso)
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