14 de agosto de 2009

“O Zeca é o Estado Novo e o século XX”


Irene Pimentel, investigadora distinguida com o Prémio Pessoa de 2007 pelo seu trabalho sobre o Estado Novo, escreveu agora os textos para a ‘Fotobiografia de José Afonso’, uma surpresa para muitos que, nas palavras da autora, não passa de "mais do mesmo".

"Escrever sobre o Zeca continua a ser escrever sobre o Estado Novo, agora numa perspectiva global: havia o lado do regime e o da resistência, o da arte e o da cultura. Diria mesmo que o Zeca é o Estado Novo e o século XX porque ele tanto viveu o regime como o contra-regime, a revolução como o pós-revolução, e todo o processo de transição para a democracia até aos anos 80, quando ele morreu", diz Irene Pimentel.

Há anos a "tratar por tu" as instituições do Estado Novo e as figuras que as mantinham, faltava contar a história da Oposição e de quem a apoiava. Desafio aceite.

"A maior dificuldade foi o facto de ter tido uma relação de grande proximidade e simpatia com o objecto de estudo... Comecei por ouvi-lo e comprar os seus discos até que o conheci no grupo de teatro A Barraca, onde trabalhámos juntos. Eu como secretária, ele como músico. Para passar destas memórias para a neutralidade que nunca existe – mas da qual, como historiadora, não posso desistir – optei por ver como é que tinha sido visto por aqueles que conviveram e cantaram com ele e, sobretudo, pela imprensa da época", conta.

Nesta "biografia-súmula", uma de muitas, há novidades: "Esteve na Mocidade Portuguesa, foi apoiante do regime até determinada fase da sua vida e teve na Guerra Colonial a revelação da miséria do País e do racismo do povo." Mas, maior surpresa encontrou a autora num acto de censura na origem de um ícone do 25 de Abril: "Ao expulsá-lo do ensino, o regime fez dele cantor e imortalizou-o."

PESSOAL

UMA BIOGRAFIA

"Como leitora, a minha preferida é talvez aquela biografia monumental de dois volumes sobre Hitler, da autoria de Ian Kershaw. Muito, muito boa."

UMA MÚSICA

"Do Zeca Afonso difícil é escolher e depende do momento. São tantas e todas tão boas. Gosto de ‘Venham Mais Cinco’ pelo texto lindíssimo e pelo ritmo extraordinário mas ‘Utopia’ é outra grande canção."

UMA MÁGOA

"Quando escrevi ‘Biografia de um Inspector da PIDE’, fui ‘crucificada’ na internet antes mesmo de o livro ter chegado às livrarias. E isso magoou-me muito. Depois, aprendi a defender-me. Não tenho tabus mas há quem tenha!"

Dina Gusmão in Correio da Manhã

1 Comment:

marco a.s.peres disse...

belo livro...OBRIGADO