Música: José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos (1929-1987) Letra: popular (alentejana) Incipit: Tenho barcos, tenho remos Origem: Faro Data: 1962 Tenho barcos, tenho remos, Tenho navios no mar; Tenho o amor ali defronte E não lhe posso chegar. Tenho navios no mar, (bis) Tenho o amor ali defronte Não me posso consolar. (bis) Já fui nau, já fui navio Já fui chalupa, escaler; Já fui moço, já sou homem, Só me falta ter mulher. Só me falta ter mulher, (bis) Já fui moço, já sou homem Já fui chalupa, escaler. Os versos das quadras vocalizam-se sem repetições. Os tercetos são bisados no 1.º verso e o primeiro terceto é bisado também nos dois últimos versos.. Esquema do acompanhamento: Quadra: Sol, Sol Sol, 2ªSol Dó, Sol 2ªSol, Sol; Terceto: Dó, Sol Dó Sol Sol, Dó Sol, 2ªSol, Sol; Informação complementar Composição musical estrófica para 2.º tenor solista, com compasso indefinido, a pender para o quaternário, com desenvolvimento na tonalidade de Sol Maior. Nas vocalizações protagonizadas por José Afonso e António Bernardino afirma-se como uma obra literário-musical de grande beleza e intensidade dramática. A 1ª quadra, como popular que é, tem diversas variantes. No 1º dístico, uma delas é «... tenho redes», em vez de remos. Na gravação de José Afonso, estão implícitas no 2.º dístico duas variantes e uma outra encontra-se numa gravação do Rancho Coral e Etnográfico do Povo de Serpa (EP ALVORADA, AEP 60.920). A 2.ª quadra também tem variantes. No 1º verso, «Já fui nau,...» e parece-nos que “Já fui mar...” seja corruptela por deficiente aprendizagem de outiva. Também se encontram variantes no 2º e no 3º verso e, no 4º verso. A variante que se afigura de assinalar é a da substituição do verbo ser por ter, que parece ser mais apropriada (Só me falta ter mulher). Nas suas actuações orfeónicas e também na viagem com a TAUC ao Brasil, no Verão de 1925, o antigo estudante e aplaudidíssmo serenateiro Agostinho Fontes Pereira de Melo cantou a quadra jocosa: Já fui mar, já fui navio, Já fui chalupa e escaler, Já fui rapaz, já sou homem, Falta agora ser mulher. O tema popular alentejano, com solfa, foi recolhido por Pedro Fernandes Tomás, Canções portuguesas (do século XVIII à actualidade), Coimbra, Imprensa da Universidade, 1934, pág. 134. Esta é seguramente uma obra-referência do Movimento da Balada. José Afonso gravou esta canção em 1962, acompanhado exclusivamente à viola de cordas de nylon por Rui Pato (disco RAPSÓDIA, EPF 5.182, de 45 rpm). Em Cantares de José Afonso, Lisboa, 1969, AEIST, 1969, pág. 49, vem (incompletamente) a letra gravada por José Afonso e, em nota de rodapé, a indicação da existência de um barco que pertencia a uma pequena sociedade constituída por Manuel Pité, António Barahona, José Louro, António Bronze e José Afonso (ver também João Afonso dos Santos, José Afonso. Um olhar fraterno, Lisboa, Caminho, 2002, pág. 159). A 1ª e 2ª quadras são contudo muito anteriores à existência do dito barco e ao nascimento do próprio José Afonso. Disponível em long play: LP José Afonso – Baladas e fados de Coimbra, Edisco, EDL 18.020, editado em 1982. Espécime recuperado e gravado por António Bernardino, com acompanhamento de viola de cordas de nylon por Rui Pato, em 1983, na antologia Tempo(s) de Coimbra, editada em 1984 e reeditada em 1990. Na primeira metade da década de 1990 o tema é gravado pela Tertúlia do Fado de Coimbra, na voz de José Miguel Baptista que não canta exactamente como José Afonso, música e letra: CD Tertúlia do Fado de Coimbra – Amanhecer em Coimbra, Edisco, ECD 15, editado em 1993. Outra abordagem marcante da década de 1990 foi efectuada por Victor Almeida e Silva, acompanhado por Paulo Soares e Carlos Costa: CD Trova Lírica, Lisboa, Movieplay PE 51.013, ano de 1994, faixa nº 14, aqui com um arranjo guitarrístico peculiar de Paulo Soares. No registo referido vem omitida a autoria da música e apenas se indica “popular” para a letra. Há ainda notícia de outra gravação pelo grupo Guitarras do Mondego, sem indicação do nome do cantor: CD Gerações, ano de 2003, faixa nº 9, sendo seguido o arranjo de guitarra concebido por Paulo Soares em 1994. Esta formação é constituída por João Couceiro/Nuno Lages (cantores), Paulo Conceição/Pedro Manso (gg) e Pedro Gama (viola). Transcrição: Octávio Sérgio (2010), baseada na interpretação do autor Pesquisa e texto: José Anjos de Carvalho e António M Nunes Projecto: Recolha e preservação de temas da Canção de Coimbra.
Comentário de Jorge Rino: Parte da letra é mais velha do que vento norte e é brasileira. Quase de certeza que não é de invenção do orfeonista que a cantou ou disse na digressão do Orfeon ao Brasil. Eis o que eu tinha de outiva e que confirmei com o livro dos anos 60 e que estava à mão: Ariano Suassuna – Auto da Compadecida “Versinho” de Canário Pardo que a mãe de João Grilo cantava para ele adormecer
Já fui barco, fui navio, Mas hoje sou escaler. Já fui menino, fui homem, Só me falta ser mulher. Pode ouvir-se o autor, acompanhado por Rui Pato, na viola.
Pesquisa e texto: José Anjos de Carvalho e António M. Nunes
Pesquisa e texto: José Anjos de Carvalho e António M. Nunes
Retirado do blogue "Guitarra de Coimbra" de Octávio Sérgio
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