20 de novembro de 2010

Carta aberta aos senhores da guerra

Felgueiras, 20 de Novembro de 2010

Exmos. Senhores:

Os senhores hoje, dia 20 de Novembro, estão em Lisboa… E não vêm por coisa boa! Aliás, os senhores nunca vão a lado nenhum por coisa boa. Tudo o que os senhores fazem é por dinheiro – o estúpido dinheiro! Por dinheiro e por poder. E mais: têm a consciência de que o dinheiro e o poder não fazem a felicidade, nem sequer a felicidade dos senhores. Mas os senhores são assim! Geneticamente assim! Haverá explicação científica alguma para o fenómeno? E, por muito que me custe, esse fenómeno é humano. Quanto à explicação, não sei, não posso dizer, porque não sou cientista. Preocupo-me mais com a poética dos dias, porque cientistas já os senhores os são, e há muito! Os senhores são a Ciência e, inerentemente, a própria condição humana. Mas que condição humana!

Eu sei, os senhores sabem, muita gente sabe, todos nós sabemos, que o sistema (os senhores são o sistema) está a preparar uma guerra à escala regional (uma qualquer região do mundo) ou, provavelmente, um holocausto à escala intercontinental ou, quiçá, mundial, só para… salvar o Ocidente! Uma guerra que, no fundo, é contra os próprios senhores. Porque os senhores, sendo o próprio sistema, querem salvá-lo a nível financeiro. Um sistema demoliberal que está a engolir-se a si próprio! Que importará que milhares ou até milhões de crianças e adultos morram numa parte do mundo para que do lado de lá da tragédia se viva cosmopolitamente bem? Tem sido essa a história e a lógica da ideologia que exportam para todo o mudo. Porque os senhores vivem da economia de guerra. E, como vivem da economia de guerra, fazem a guerra (como agressores) e defendem as vítimas da guerra (como autênticas vítimas!), num ciclo mirabolante e diabólico, que é a essência desse tal sistema. Produzir e consumir! Não é verdade? Por exemplo, o trigo apodrece nos silos dos EUA e não é para vender nem, muito menos, para dar e distribuir (não lugar há distribuição cristã da riqueza do pão e dos peixes). Há que deixá-lo retido, bem guardado em stock, para que o custo seja encarecido, inflacionado, transaccionado na bolsa, mesmo que entretanto uns tantos milhões de pessoas morram de fome em certas partes do mundo.

Os senhores induziram em erro a Humanidade! Acuso-os disso! Completamente! Enganaram e mentiram quando disseram que, ao contrário do que acontecia na Idade Média, na base da política e do poder já não estava o poder das armas (como, por exemplo, era o caso dos cavaleiros-vilãos) mas na economia. Engano! Engano! Mentira! Mentira! – torno a dizer.

Tal como há séculos, os senhores vivem da economia de guerra. Esta condiciona a ideologia e as formas de acesso ao poder, mesmo o íntimo poder das pessoas. Se assim não fosse, finda a Guerra Fria, teriam proposto o desarmamento mundial nuclear. Mas isso não lhes convém. Porque os senhores não querem a felicidade – não querem ser felizes, nem querem que os outros o sejam.

Lisboa hoje não tem pregões nem varinas; tem fantasmas, choros de criança e a soberba dos adultos.

José Carlos Pereira (Felgueiras)

1 Comment:

folha seca disse...

Caros Amigos

Surripie para publicar no "Largo da Calhandreiras" forumlc.blogspot.com esta carta.
Agradecimentos à AJA e ao autor.
R.Manuel