18 de fevereiro de 2011

Bom senso nunca

Aqui há uns dias, vinha eu de carro, quando ouvi numa estação de rádio que não reparei qual – mas que, se tiver que apostar, diria ser a RFM, já que, para mal dos nossos pecados, é a única estação que se apanha em condições em qualquer zona de Setúbal –, uma versão de “O que faz falta”, do Zeca Afonso. Até era uma versãozita anónima, daquelas que não aleijam ninguém, mas que também não justificam a sua razão de existir. Mas o que me deixou mesmo chateado foi quando o locutor identificou os autores da cantiga: “Zeca Sempre”, um tal de novo projecto nacional que homenageia a música de Zeca Afonso.
Que imaginação! Depois do flagelo que foram os “Amália Hoje” era mesmo o que precisávamos na música portuguesa: uma imitação manhosa para o Zeca. Será que eles não se cansaram da sobrexposição dos “Amália Hoje”, escondidos na falsa capa da homenagem e de releitura moderna (?) das canções de Amália Rodrigues, como se violinos no fado fosse uma coisa muito inovadora na música de Amália? E já nem estou a ser mauzinho ao mencionar a confusão de Sónia Tavares, que não consegue perceber a diferença entre cantar e gritar desalmadamente.
Eu sei que a atitude mais correcta para ter em relação aos “Zeca Sempre” era ignorar, mas o meu corpo reage com grande indignação perante tudo o que lhe transmite más vibrações e, por isso, não consegui evitar ir espreitar na Internet quem é que estava por trás do projecto. Nuno Guerreiro, Olavo Bilac, Tozé Santos e Vitor Silva, músicos reciclados, que procuram um aproveitamento do nome e a obra de Zeca Afonso, sob o mesmo pretexto de “homenagem” e de “transportar para a actualidade o seu espólio musical”.
Como é se homenageia alguém fazendo versões piores das suas músicas? A melhor homenagem não é ouvir os originais? Parece aquele caso do tributo ao Duo Ouro Negro, “Muxima”, que saiu este Natal ao mesmo tempo que uma colectânea com os melhores êxitos do duo angolano e em que a cópia vendeu mais que o produto original. A explicação só pode ser uma: melhores responsáveis pelo marketing do disco.
Só assim se consegue perceber que tenha passado quase despercebida a reedição do álbum “Com que voz”, da Amália Rodrigues. É a sua obra-prima, é o seu disco com mais edições no mundo inteiro e até é o que tem a versão original de “Gaivota”. No entanto, pouco se ouviu falar dele. Será que as pessoas preferem mesmo ouvir a “Gaivota” gritada do que cantada?
Por isso, deixem-se mas é de Amálias Hoje e de Zecas Sempre e vão ouvir os originais, porque senão o que apetece dizer a isto é bom-senso nunca.

José Vale | Setúbal na Rede

8 Comments:

Anónimo disse...

Sinceramente, sem acinte ou provocação, acho que este "post" confunde "alhos com bugalhos"!Reinventar a obra do Zeca sob a forma de novas roupagens ou sonoridades é celebrá-lo!
No que toca ao "Zeca Sempre" há, naturalmente, uma crítica clara; a CENSURA ao " O que faz falta"! Quanto ao resto...é um trabalho de músicos que tratam a obra do Zeca à sua maneira! E não me parece que seja de forma pejorativa!O CD e o DVD demonstram a admiração que mos autores têm pelo Zeca!
Abraços,
Paulo Esperança

chico da EMILINHA disse...

Posso tentar compreender ( e tento ) o que leva José Vale a escrever o que sente quando ouve outros a cantar Zeca Afonso.
Mas há mesmo imensas versões de cantigas do Zeca, cantados por outras pessoas, com arranjos e versões novas, que para mim tentam também perpetuar quem foi e o que foi JOSÉ AFONSO,, então quando vejo gente mais nova a fazer isso, fico contente. Não aconselho, mas se tiver oportunidade, veja e ouça, por exemplo as crianças da Escola da Ponte, a cantar ZECA... há um dvd com o lembrar dos 80 anos anos do ZECA,, criancitas com uma interpretação LINDAAAAAAAA, de várias canções DELE.
Eu não sou o Zeca, nem reconheço o direito de seja quem for se julgue que o é, se fosse a ouvir só o que ZECA cantou, por ele próprio através dos discos e cds,( e ouço) acho que seria matar o que ele sempre fez, DAR-SE, ALERTAR, ESTAR AO LADO DE......
Posso não gostar de tudo o que ouço invocando o Zeca e, não gosto, mas vejo e ouço e, acho muito lindo, ver e ouvir gente que nunca o conheceu a interessar-se pela sua obra, pensamentos e princípios...
NÃO TENHO O ZECA COMO ÍDOLO,, mas certamente é uma REFERÊNCIA, como mais algumas e tantas outras que nos FAZEM FALTA.

SE ISTO NÃO É REVIVER,
NÃO ESQUECER
E PERPETUAR ZECA,,,
vou ali e já venho.

Com o repeito a todas as opiniões o meu ABRAÇO
chico da EMILINHA

Helena Borges disse...

Apetece é perguntar "porque é que este texto está aqui"? A gerência do blogue subscreve-o? A AJA subscreve-o? Dava jeito uma contextualização.

Depois desta prosa tão quezilenta, fica-se com vontade de gostar dos "Zeca Sempre".

Associação José Afonso disse...

Cara Helena,
o objectivo deste blogue não é de subscrever ou deixar de subscrever as diversas opiniões que são manifestadas sobre José Afonso e a sua obra. Concordando ou discordando, alguém escreveu um texto sobre um tema que envolve a obra de José Afonso. É nosso dever partilhá-lo e discuti-lo, nunca ocultá-lo. É por isso que este texto está aqui. Este é um espaço de partilha e discussão e todos tem nele lugar, porque todos têm uma opinião e ela deve ser respeitada. Esta é uma "cidade sem muros nem ameias."

Helena Borges disse...

Portanto, o objectivo é partilhar e discutir um texto sobre um projecto que, até agora, não mereceu ser partilhado nem discutido nesta "cidade sem muros nem ameias"? Pode concluir-se que o propósito não é discutir o projecto, mas, sim, discutir o texto sobre o projecto?

O José Vale diz-nos que ficou mesmo chateado quando descobriu que existia um projecto chamado "Zeca Sempre", cujas más vibrações provocaram uma reacção indignada do seu corpo. A imitação manhosa do Zeca lembrou-lhe o flagelo de um projecto quejando, "Amália Hoje", já que ambos procuram, ouso dizer, "esmifrar" aqueles que fingem homenagear. José Vale não conclui sem enfiar o tributo ao "Duo Ouro Negro", "Muxima", no mesmo saco dos outros dois projectos. Isto tudo para sugerir aos leitores que ouçam os originais.

(Ouço, ouço os originais, mas também gosto de ouvir, por exemplo, o tributo do José Mário Branco, da Amélia Muge e do João Afonso, "Maio Maduro Maio", e o tributo da Cristina Branco, "Abril". As versões pontuais do Janita, da Lula Pena, do José Mário Branco, da Uxía e de tantos outros também não me aleijam, antes pelo contrário.)

Afinal, que discussão é que os engulhos do José Vale pretendem suscitar? Uma discussão sobre o que valida uma versão de uma canção? Sobre o que move os avais dos titulares dos direitos de autor?Sobre o pântano do mercado musical?

Lamento que a discussão seja motivada por um texto destes, abundante no juízo do "mau" e omisso na partilha do "bom". Não pretendo insinuar alguma obrigação do José Vale na partilha de alternativas, afinal, é notório que o objectivo do seu texto não passa por aí.

Associação José Afonso disse...

Cara Helena,
o projecto já foi devidamente partilhado neste blogue e na nossa página do Facebook:
http://vejambem.blogspot.com/2010/11/nuno-guerreiro-olavo-bilac-e-toze.html
Quanto aos engulhos contra os quais se insurge,sugerimos que entre em contacto com José vale através do email disponibilizado pelo jornal Setúbal na Rede: portal@setubalnarede.pt.
Obrigado.

Helena Borges disse...

Cara AJA,

Mea culpa, o post que mencionas não inclui os termos "Zeca Sempre", por isso, não constou nos resultados da busca pelos mesmos.

Agradeço a sugestão de entrar em contacto com o autor do texto, mas vou passá-la, é que, sendo frequentadora assídua do blogue da AJA, não sou frequentadora da coluna do José Vale. A AJA publicou o texto no vejambem.blogspot.com, por isso, parece-me legitimo comentar o texto no vejambem.blogspot.com. Lembras-te daquilo que escrevias sobre o dever de partilhar e discutir?

Perdão pela inconveniência,

Helena Borges

chico da EMILINHA disse...

HI..HI...HI...HI...HI...HI...HI..

A LENINHA NEM PINTOU AS UNHAS.....

ACALMA-TE MIGUINHA,,,

HÁ COISAS MAIS GRAVES E IMPORTANTES COLECTIVAMENTE
QUE MERECEM

A TUA " INDIGNAÇÃO "......

AINDA POR CIMA QUERIAS

PÔR O MIGUEL A CENSOR....

HI..HI...HI...HI...HI...HI...HI..