14 de abril de 2005

Uma notícia do jornal "A Capital"

A Capital foi procurar jovens em torno dos 18 anos: O tempo que passou desde que José Afonso desapareceu. O que sabem dele hoje?

Para alguns dos que hoje têm 18 anos, José Afonso é desconhecido. Para outros, o músico é um marco histórico

Quatro alunas universitárias recordaram o papel de José Afonso na música, embora todas pensem que ainda dá concertos

Será que alguém que tem hoje 18 anos conhece José Afonso, a sua obra ou o seu papel enquanto criador e cidadão? Alguma vez terá ouvido com ouvidos de ouvir os acordes das suas músicas? Sem inocência, A Capital foi falar com alunos de um «liceu de referência» em Lisboa e de uma faculdade ligada às letras. Aqui fica o resultado.
Ricardo tem 18 anos e não sabe quem foi Zeca Afonso. Com os livros debaixo do braço e óculos de massa conhecidos como sendo de intelectual, preparava-se para entrar na Universidade Nova de Lisboa. Surpreendido com a sua ignorância, enrolou-se nas desculpas de ser de manhã e de estar ainda meio a dormir, ou de não gostar muito da cultura portuguesa.«Identifico-me mais com a cultura anglo-saxónica. Além disso, a nossa história não tem heróis de verdade. No 25 de Abril, por exemplo, não houve mortos. Uma revolução sem sangue não é uma revolução verdadeira», justificou. De repente, em plena argumentação, surge o toque milagroso do telemóvel. Era a sua mãe que estava preocupada com a possibilidade de o filho não ter levado dinheiro na carteira. As suas faces pálidas ficaram coradas, de repente.
Joana é colega de Ricardo e ambos frequentam o 1.º ano da licenciatura de Sociologia. Ficou escandalizada com a resposta do colega. «Por isso é que o país está em crise, graças a burros como tu. Eu sei quem foi Zeca Afonso», afirmou. Desde muito nova, habituou-se a ouvir a sua música, por influência dos pais. «A minha mãe achava-o muito bonito, provocando um ataque de ciúmes no meu pai», confidenciou, não conseguindo conter uma gargalhada. Entretanto, em plena entrada da universidade juntaram-
-se mais quatro amigas que, inexplicavelmente, começaram a falar pela Joana, como se lhe adivinhassem a condução dos pensamentos. «Ele foi o autor da música da revolução. Já não me lembro. Não foi Grândola qualquer coisa?», discutiam, transformando o aparente caos num discurso energético e digno de ser ouvido. Todas conseguiram recordar o seu papel na música portuguesa. Todas pensam que Zeca Afonso ainda continua a dar concertos... A conversa animada acabou com a presença de um senhor de idade que passou ao longe. Era o professor aguardado e já estavam atrasadas para a aula...(

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