30 de março de 2006

Poema de Natália Correia

Foi-me preciso descobrir que:

a lógica é a ciência de gerir os rendimentos da estupidez;

os políticos não são inteiramente galinhas porque cacarejam e não põem ovos;

as pastas dos executivos levam dentro aranhas para urdirem as teias que nos imobilizam;

os militantes de todos os partidos têm pele de camisas enforcadas;

a família é um cardume de piranhas ao redor da carcaça de uma vaca sagrada;

a sociologia é uma completa falta de humor perante a decadência;

os gestores destilam um suor frio que nos constipa;

as nações içam as bandeiras para porem o falo a pino e masturbarem-se;

as esquerdas e as direitas resultam do pacto de não inverterem os papéis;

o socialismo é um estratagema para negar aos exploradores o direito ao desaparecimento;

o liberalismo é uma manha do Estado para forjar algemas com a liberdade;

os intelectuais são uma chatice com que o Criador não contava;

sendo a educação a providência dos imbecis que são em maior número,

o mundo está imbecilizado pela educação;

o sistema é a creche da debilidade mental e a vala comum da inteligência;

a economia é adquirir-se o vício do fumo porque se comprou um isqueiro;

dos vencidos não reza a história porque se renderam à razão,

para concluir que:


chegou a hora romântica dos deuses nos pedirem a desobediência.

Faço-lhes a vontade.

A partir de hoje, se alguém me quiser encontrar, procure-me entre o riso e a paixão.



N A T Á L I A C O R R E I A
10 de Janeiro de 1983

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