QUEREMOS falar-vos de amanhã... do amanhã procriado de antanho... de um amanhã que há trinta e dois anos foi parido de uma gravidez sofrida, violenta, estóica, de “antes quebrar que torcer”.
QUEREMOS falar-vos dos que aqui estamos e dizer-vos que somos todos filhos e irmãos dos que, não estando, exigem, também, fazer connosco a travessia para o encontro no futuro.
VIMOS aqui falar-vos desse amanhã surgido das trevas às “arrecuas” como se o inferno, de repente, se dilacerasse com fogos-fátuos emergindo de parte nenhuma.
QUEREMOS dizer-vos que se não fosse amanhã... tarde saberíamos quem, pela noite calada tinham levado, quem sucumbira às portas da manhã clara.
VIMOS dizer-vos que se não fosse amanhã continuaríamos a buscar num qualquer sótão esconso o desassossego das palavras do Adriano, do Zeca, do Zé Mário e de tantos outros que, deixando-nos a alma cheia, nos ajudavam a sentir a repulsa, muitas vezes apenas ao vazio.
QUEREMOS dizer-vos que se não fosse amanhã os pescadores das traineiras de Matosinhos que em 1973 gritaram com luta a sua revolta ao grotesco saberiam que a reincidência custar-lhes – ia a mesma Rua do Heroísmo (sede da PIDE no Porto), o mesmo “Aljube”, o mesmo Tribunal de Polícia da Rua Firmeza.
VIMOS ainda dizer-vos que se não fosse amanhã, o “Mundo da Canção” continuaria a ir directamente da tipografia para os armazéns da repressão iletrada, os jornalistas teriam de inventar mais metáforas e mensagens subliminares, os estudantes estariam condenados a conviver com obscuros infiltrados nas universidades, uma população imensa manter-se-ia acorrentada à guerra colonial.
Se não fosse amanhã!....
Mas há trinta e dois anos começou amanhã!
Esse amanhã... esse dia inteiro e limpo que devolveu a poesia às ruas semeando vida no estertor silencioso do mundo dos chacais.
QUEREMOS por isso dizer-vos que é esse amanhã que começamos a celebrar hoje tomando conhecimento de que nada se perde, tudo se transforma e que o mundo sendo composto de mudança exigirá sempre novas qualidades.
Longa e bela travessia essa… se for emoldurada pelo “que faz falta”, num mundo com muros e com ameias, com gente desigual por dentro e gente desigual por fora.
A AJANORTE – Núcleo do Norte da Associação José Afonso, a Associação 25 de Abril e a Câmara Municipal de Matosinhos quiseram embarcar nesta travessia aparelhando a jangada que traz o Zeca a Matosinhos e ao 25 de Abril de 2006.
Vimos dizer-vos que queremos falar de POESIA, de MÚSICA, de EXEMPLO CÍVICO...em suma... de VIDA!
EM FESTA!
FESTA...aqui dentro e lá fora, onde depois da nossa “Grândola” celebraremos, nesta cidade e naquela Praça ali, com o artifício do fogo, o tempo do “ depois do adeus”.
Para esta parte da festa está connosco um grupo de mulheres que faz do exemplo do Zeca um mote para a sua criatividade em torno da música tradicional e popular portuguesa.
São as “SEGUE-ME À CAPELA”.
DO PAÍS DAS BARCAS DE PEDRA… do mundo do “Nunca Mais”… vem a Galiza – com um português à mistura – são os “ DE OUTRA MARGEM”.
MATOSINHOS… 2006… ABRIL… 24
Este é o farnel amanhado para nos ajudar… a todos!
Contai com ele para o que for preciso e para o resto.
Entrai e festejai todos.
Esta é a memória, este é parte do futuro que ainda não nasceu …este é uma parte do cais para a longa travessia.
Amanhã...VALEU A PENA? VALEU, POIS!
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