É bom passar por aqui e ouvir o nosso saudoso Zeca Afonso. E também é bom saber que há cidadãos que não dormem e se revoltam. Bem-hajam!
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Pássaros Cruéis
Um fluxo de dólares e de sangue jorrando sobre a Mesopotâmia. Um sino de fogo embutido nos umbrais do deserto. E a fúria insana. O crude sobre o equinócio ensaiando um concerto de morte.
E há falcões. Falcões que dançam e pairam sobre os soluços do amanhecer sangrento. Talvez abutres.
Fogo e cinzas calcinantes, estilhaços, gritos, pedaços de argila. A morte galopando sobre as cidades.
Breve, um talismã tomba sobre o asfalto. Um turbante esvoaça, branco, sob o luar negro de fumo. Calou-se a flauta de vento que flébil gemia sob a tamareira. Eternos e piedosos, a Lua e Vénus velando a morte.
Cessaram os sorrisos no país de Aladino. Sangue e lágrimas, apenas. Um sem-fim de covas, e cemitérios, e morte. A face lúgubre e sombria do fim.
Onde estão as crianças acordadas no seu sonho peregrino? Onde a civilização das areias? Onde Gilgamesh, o herói de todas as batalhas? Onde Babilónia, a dos Jardins Suspensos? Onde o berço da civilização? Onde a justiça? Onde as palavras que brotaram da argila? Onde a água de sonho do Tigre? Onde o Sol, onde a Lua? Onde a estrela levantina? Onde os pássaros, onde a brisa? Onde as chispas de oiro e prata das águas de espelhos do Eufrates agora tintas de sangue? Onde a mulher que embalava no berço o seu menino de olhos de mel? Onde o menino? Onde a Babel?
A coberto dos ventos de opróbrio e azeviche, nabucodonosores de barro tombam no resvalo da pedra de Sísifo enquanto trepidantes de náusea os cavalos de fogo do Apocalipse migram para o frio na companhia dos pássaros cruéis.
O verbo, distorcido, aguarda receoso a frieza invencível da razão clara. Viscoso e mole, o mutismo dos homens flanqueia a gelatina estática do caos. Morre, a pouco e pouco, a cidade de Sherazade.
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É bom passar por aqui e ouvir o nosso saudoso Zeca Afonso. E também é bom saber que há cidadãos que não dormem e se revoltam.
Bem-hajam!
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Pássaros Cruéis
Um fluxo de dólares e de sangue
jorrando sobre a Mesopotâmia.
Um sino de fogo embutido nos umbrais do deserto.
E a fúria insana.
O crude sobre o equinócio
ensaiando um concerto de morte.
E há falcões.
Falcões que dançam e pairam sobre os soluços
do amanhecer sangrento.
Talvez abutres.
Fogo e cinzas calcinantes,
estilhaços, gritos, pedaços de argila.
A morte galopando sobre as cidades.
Breve, um talismã tomba sobre o asfalto.
Um turbante esvoaça, branco,
sob o luar negro de fumo.
Calou-se a flauta de vento
que flébil gemia sob a tamareira.
Eternos e piedosos, a Lua e Vénus
velando a morte.
Cessaram os sorrisos no país de Aladino.
Sangue e lágrimas, apenas.
Um sem-fim de covas, e cemitérios, e morte.
A face lúgubre e sombria do fim.
Onde estão as crianças
acordadas no seu sonho peregrino?
Onde a civilização das areias?
Onde Gilgamesh, o herói de todas as batalhas?
Onde Babilónia, a dos Jardins Suspensos?
Onde o berço da civilização? Onde a justiça?
Onde as palavras que brotaram da argila?
Onde a água de sonho do Tigre?
Onde o Sol, onde a Lua?
Onde a estrela levantina?
Onde os pássaros, onde a brisa?
Onde as chispas de oiro e prata
das águas de espelhos do Eufrates
agora tintas de sangue?
Onde a mulher que embalava no berço
o seu menino de olhos de mel?
Onde o menino?
Onde a Babel?
A coberto dos ventos de opróbrio e azeviche,
nabucodonosores de barro
tombam no resvalo da pedra de Sísifo
enquanto trepidantes de náusea
os cavalos de fogo do Apocalipse
migram para o frio
na companhia dos pássaros cruéis.
O verbo, distorcido, aguarda receoso
a frieza invencível da razão clara.
Viscoso e mole, o mutismo dos homens
flanqueia a gelatina estática do caos.
Morre, a pouco e pouco, a cidade de Sherazade.
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