30 de março de 2007

Espectáculo junta perto de 400 ‘fãs’


Com a nostalgia à flor da pele e as melhores palavras prontas a evocar a uma plateia totalmente disposta a reviver memórias de um passado recente, o espectáculo aconteceu. Quatro centenas de pessoas quiseram recordar José Afonso e, no final, saíram com a certeza de que continua a valer a pena recordá-lo.

Ana Marques

Há dez anos lembrar ‘o Zeca’, assim lhe chamam os ‘admiradores’, revelou-se uma boa ideia e estava na altura de repetir a dose, só que agora “de forma ainda mais profi ssional e com mais rigor”. Vila Nova de Santo André foi novamente o palco de um espectáculo em homenagem ao músico e compositor, passados que estão 20 anos sobre a sua morte (23 de Fevereiro de 1987). Três associações daquela cidade – Quadricultura, Adecla (Associação para o Desenvolvimento Educativo e Cultural do Litoral Alentejano) e AJAGATO (Associação Juvenil Amigos do Gato) – juntaram vontades e multiplicaram-nas por um grupo indefi nido de ‘amigos’. “O Zeca sempre foi aglutinador na sociedade portuguesa, em torno dele juntava-se praticamente toda a gente e este espectáculo revela que ainda hoje ele tem essa capacidade”, sublinha Mário Primo, um dos organizadores. Nos bastidores, na produção e em palco estiveram envolvidas cerca de 80 pessoas. O resultado de tanto entusiasmo culminou com a apresentação de uma ‘viagem ao passado’, construída sobre múltiplas interpretações e expressões artísticas, que ‘desfi laram’ no auditório da Escola Secundária Padre António Macedo, durante quase duas horas.

“Um amigo muito grande”

Música, performances teatrais, projecções multimédia, “uma espécie de programa de televisão em directo, com um ritmo de um espectáculo musical”. Foi assim que a organização idealizou as sessões de homenagem, que integram o projecto “Contos Velhos, Rumos Novos”. Na ‘linha da frente’ estiveram artistas da terra e de ‘fora’. Jorge Ganhão, Rui Vinagre, Carla Chainho, Paulo Barba fizeram parte do elenco onde, entre tantos outras presenças de relevo, não faltou João Afonso, sobrinho de José, e Francisco Fanhais, um companheiro de ‘estrada’. “Uma amizade que nasceu desde que nos conhecemos”, recordou João Fanhais ao Notícias de Sines, sem poupar palavras de elogio a “um amigo muito grande”. “Era um homem que punha a sua arte ao serviço de um compromisso político, que era apartidário, mas com todas as causas onde era exigida a solidariedade e a sua presença como cidadão. Foi de uma generosidade perfeitamente incondicional”. ‘Familiarizado’ com as diferentes homenagens feitas ao cantor, João Fanhais mostrou-se, ainda assim, “espantado” com a disponibilidade das pessoas “que se dão com generosidade” a eventos do género. Adelina Gomes, ainda de espírito ‘hipnotizado’, classifi cou o momento de “extraordinário”. “Vale sempre a pena recordar Zeca Afonso e o espectáculo foi excelente do princípio ao fi m, foi arrojado, como o Zeca”, considerou. “Do melhor que já vi”, começou por dizer Luís Augusto que, sem hesitações, põe no topo a exibição daquela tarde à frente de “outras” a que assistiu em Setúbal e Évora. No ‘ranking’ das melhores performances Luís Augusto, residente em Ferreira do Alentejo, destaca “o sobrinho do Zeca – espectáculo! – e aquele bailado das bruxas, muito especial e fora do comum, com a lua a aparecer...”. Umas das ‘bruxas’ que dançou em volta do caldeirão foi Ana Lúcia Palminha, uma jovem actriz para quem Zeca Afonso diz muito, apesar de fazer parte de outros tempos. “Era um artista que já ouvia quando era adolescente, é uma marca de voz que se exprime por um valor e que junta vozes num tempo em que é difícil as pessoas de juntarem”, comentou ao Notícias de Sines. “Acho que vozes como a dele vão fi car para sempre como uma marca da força do Homem a lutar pela essência verdadeira, que é comunitária”.

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