Ouvi há dias algumas músicas do século XVIII português gravadas pela Fundação Gulbenkian e fiquei atónito com tanta beleza, até hoje secreta, guardada a sete chaves em arquivos de traças. Estranho país este!, de parvos, de imbecis, de analfabetos, de fanáticos, de pitosgas, de torquemadas covardes... mas em que existiram sempre, através dos séculos, meia dúzia de artistas de eleição a fazerem versos, a pintarem, a escreverem música (sim, até música!) para ninguém! Ouviram? PARA NINGUÉM!
Lisboa, 12 de Abril de 1967
in Dias Comuns II, "A Idade do Malogro"
Lisboa, 12 de Abril de 1967
in Dias Comuns II, "A Idade do Malogro"
O escritor José Gomes Ferreira (1900 - 1985) foi, na sua juventude e primeira idade adulta, um compositor de talento. Algumas das peças que compôs nas décadas de 1910 e 1920 foram, aliás, dadas a conhecer ao público de hoje em dia através de apresentações públicas nas cidades do Porto e de Lisboa por ocasião das comemorações do centenário do seu nascimento. Assim, é curioso registar este curto mas contundente testemunho. Que sirva para a reflexão tão necessária sobre o projecto cultural que pretendemos para Portugal! Só com uma mudança a nível cultural e de atitudes poderemos almejar progressos efectivos e eficazes a outros níveis. Poeta militante, hoje e sempre, estás entre nós!
Retirado de http://bissaide.blogspot.com/
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