Os poemas com ideais de liberdade são os mesmos, mas a voz não. Zeca Afonso já não canta, mas um grupo de cinco professores da Escola Júdice Fialho, em Portimão, quis perpetuar as suas canções e a sua mensagem num CD de tributo ao músico que foi um dos rostos do combate ao Estado Novo.
Luís Antunes, Nuno Baptista, José Vieira, Simeão Quedas e Marco Diogo, apesar das diversas áreas de formação, (são professores de Língua Portuguesa, História, Geografia ou Ciências da Terra e da Vida), tinham em comum o gosto pela música e pela personalidade de Zeca Afonso. Daí, até à gravação de um álbum de homenagem ao músico, o percurso não foi muito longo.
«Eu e o Simeão, ao longo de muitos anos, fazíamos espectáculos de tributo ao Zeca Afonso, por altura do 25 de Abril. Depois, eu, o Nuno e o José, em vários eventos na escola, protagonizávamos momentos musicais com algumas músicas do Zeca. Já no ano passado, fizemos um espectáculo, todos juntos, na escola, de tributo ao 25 de Abril, que foi bom e teve boa adesão e achámos que esta ideia fazia sentido», contou Luís Antunes, um dos vocalistas do grupo, em conversa com o «barlavento», na qual, também participaram Nuno Baptista, José Vieira e Simeão Quedas.
Os professores/músicos explicaram que este se trata de «um projecto de escola e é através dela que se está a fazer a divulgação», mas acrescentaram que «perspectivámos um projecto nosso, da escola, da cidade e da própria região algarvia».
Para transformar este disco – actualmente com 200 cópias que serão vendidas na papelaria da Escola Júdice Fialho – num projecto a nível regional e comercializado em grandes superfícies, faltam os apoios, uma vez que, estes, só chegam a posteriori.
«Estamos à espera de respostas da Câmara Municipal, da Junta de Freguesia e da Direcção Regional de Educação, que a escola já contactou», adiantaram ao «barlavento».
A apresentação do álbum ao público, em concerto, ainda não está marcada mas o grupo espera fazê-lo o quanto antes uma vez que a cerimónia oficial de lançamento para a escola Júdice Fialho vai decorrer na quinta-feira, dia 13 de Novembro.
A receptividade dos mais novos em relação à vertente artística dos seus professores tem sido, segundo eles, «espectacular, pois miúdos que não têm idade para pensar e preocupar-se com questões políticas gostam das músicas, interessam-se e trauteiam algumas letras». «Esta é uma forma de aproximar Zeca Afonso dos mais jovens», acrescentou Luís Antunes.
Em termos musicais, o professor explicou que «os temas estão revestidos com o nosso cunho muito pessoal, de tal forma que, se pudéssemos desenhar a envolvência musical deste disco seriamos nós mais o Zeca Afonso, pois é uma forma muito original de interpretá-lo».
Em tempos conturbados para os professores, em que a motivação e o tempo, por vezes, escasseiam, o aparecimento de um projecto desta natureza surge como uma novidade mas, para os docentes, «este é um álbum que envolve muita amizade entre as pessoas e, quando assim é, quem corre por gosto não cansa».
Um dos grandes objectivos deste grupo de docentes passa por «levar o espectáculo às escolas e humanizá-las quer pela música quer pela mensagem e valores transmitidos nos poemas» porque, como está referido no interior da caixa do CD «homenagear Zeca Afonso é um ideal de vidas, de liberdades. Oiçam-no. É feito para vós».
11 de Novembro de 2008 Nuno Costa
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